sexta-feira, 22 de maio de 2015

Viçosa do Ceará fica localizada na Serra da Ibiapaba na região norte do estado. Por estas terras tiveram inicio as primeiras tentativas de colonização da capitania do Ceará com a bandeira de Pero Coelho na segunda metade do século XVII.  Após o terror imposto aos nativos por tal bandeira são designados padres jesuítas para efetivar a colonização e converter os povos aqui residentes à fé católicas. Este processo traz marcas profundas no jeito de ser e viver ibiapabano e em especial viçosense. Ao falar-se em patrimônio material e imaterial do Ceará certamente há uma briga de memórias. Quem bens seriam estes? A que tradição estariam ligados?  Por muitos anos, no Brasil, se pensou que patrimônio seriam somente aqueles ligados a uma cultura européia, ou seja, ao elemento colonizador. Porém como já discutimos esta visão no meio acadêmico é obsoleta, mas não fora dela. Resta-nos desfazer esta visão também na própria comunidade.  A atual Constituição Brasileira trás a seguinte definição para patrimônio material e imaterial:


Artigo 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I- as formas de expressão;
II- os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artísticos, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988).


O texto constitucional reflete bem o período democrático que inaugura assegurando em lei o direito de todos se verem representado no processo histórico e social do Brasil. Voltando agora a questão local observamos que quando se fala em patrimônio material pensa-se imediatamente no sítio histórico e Igreja Matriz o que é bom, pois isso reflete as discussões e tentativas de uma educação patrimonial para a população desde o tombamento [1]de tais prédios (no total foram 72) em 2003. O que não se pode esquecer é que estes bens, embora de propriedade privada, são bens da comunidade que não devem ser vistos como algo do “outro” e sim como algo de todos. Está a função desafiadora da escola enquanto instituição que prepara para a cidadania. Quanto ao patrimônio imaterial pouco se tem discutido nas escolas e nas instituições políticas locais, ou seja, a ideia de patrimônio foi desmembrada em função do tombamento do sítio histórico. Estes bens embora não palpáveis como a arquitetura imperial, são de suma importância para a identidade serrana, viçosense e cearense. “A fragilidade da identidade cultural cearense deve-se a ação dos colonizadores, do aniquilamento físico do indígena e de sua cultura entre os povos remanescentes e miscigenados.” (HOLANDA, 2009:4). Precisa-se, portanto fortalecer a identidade local, pois já fragilizada historicamente perder-se em meio à globalização e seu processo de padronização cultural. Como exemplo de patrimônio imaterial podemos citar: as profissões tradicionais de louceiras, chapeleiros, sapateiros e bodegueiros, bem como os causes e lendas que constituem parte de uma memória. Profissões e estórias que perdem sua importância frente à modernização da cidade e que podem até serem esquecidas caso suas memórias não sejam preservadas. Este é o desafio para os professores da área, em especial professores de história e sociologia. É perceber que para além de professores devemos de desempenhar uma função que também é intelectual, mas especificamente intelectuais orgânicos. Como bem nos diz Gramsci “Todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”.

Referências:            
_______ Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado; 1988.
HOLANDA, Arlene. Caixinha da Memória- Ceará. Fortaleza: Editora IMEPH, 2009.

_______________ Caixinha da Memória- Ceará: Manual do Educador. Fortaleza: Editora IMEPH, 2009.


[1]O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, estadual ou municipal. Os tombamentos federais são responsabilidade do IPHAN e começam pelo pedido de abertura do processo.